Longevidade no Esporte: Sorte, talento ou disciplina?
Muitas vezes pensamos que atletas de alto rendimento tem facilidade para se manter no esporte. Mas essa afirmação nem sempre é verdadeira. Aprenda por meio de lições dos mais diversos atletas, táticas para se manter no esporte por mais tempo. ( De preferência por toda a vida).
2/28/20244 min read
Longevidade no Esporte: Sorte, talento ou disciplina?
Muitas vezes pensamos que atletas de alto rendimento tem facilidade para se manter no esporte, mas essa afirmação nem sempre é verdadeira. Aprenda por meio de lições dos mais diversos atletas, táticas para se manter no esporte por mais tempo. (De preferência por toda a vida).
"Eu saí das Olimpíadas de Londres em depressão, fiquei 3,4 meses fora da água, eu não queria saber de natação, eu não queria saber de competir, de jogos olímpicos, de mais nada.” Essa forte declaração foi feita pela nadadora Poliana Okimoto, em uma entrevista ao podcast CazéTV (@cazetv_oficial) e nos leva a uma importante reflexão: qual é o segredo das pessoas que conseguem se manter constantemente praticando exercícios e esportes nos mais diversos níveis?
De acordo com Poliana, “Eu gostava de nadar, e aí eu senti falta. Senti falta do contato com a água, senti falta de treinar, senti falta da minha rotina.” Após esse período de afastamento em 2012, a atleta diz ter se dado mais uma chance, sem muitas cobranças para não se traumatizar e acabou atingindo sua melhor performance após o hiato, tendo conquistado em seu retorno o ouro mundial de águas abertas em 2013 e o bronze olímpico na Rio 2016.
Inúmeras condições nos afastam do esporte: excesso de treinamento levando a exaustão e até mesmo a sintomas como depressão, dificuldade para alcançar objetivos, lesões, rotina de vida e trabalho, necessidade de se concentrar em outros problemas principais de nossas vidas.
Apesar de no início esse afastamento ser considerado positivo, a longo prazo pode trazer diversos problemas como dores articulares, obesidade e outras doenças ligadas ao sedentarismo. Quando pensamos racionalmente sobre o assunto, entendemos a necessidade de nos manter em movimento, entretanto a execução nem sempre é fácil, por isso busquei a opinião de atletas longevos para nos ajudar nessa complicada, mas que também pode ser muito prazerosa tarefa.
Para Rodrigo Trivino, nadador, treinador da equipe TNT e 11 vezes campeão mundial master, sua transição do esporte profissional, na equipe do São Paulo Futebol Clube, para a carreira master ocorreu de forma natural, conciliando sua nova profissão de treinador ali mesmo no clube com a natação master, o que fez com que ele não pensasse em parar de nadar. Hoje, a natação é a sua principal atividade esportiva e profissional, tanto como técnico de natação como nadando e competindo, tendo batido 13 vezes recordes mundiais na categoria master.
Em relação a longevidade, como profissional de saúde, ele atribui à sua própria responsabilidade com sua saúde física e mental o motivo para se manter constantemente em movimento e escolheu a natação por ser um esporte no qual se sente bem.
Para ele, mais do que pelo treinamento em si, o gosto pelas competições levou a essa longevidade no esporte: “Eu vou botando objetivos. A cada 6 meses eu coloco uma prova, um tempo para me manter ativo e me manter afiado.”
Trivino afirma ainda que já teve inúmeras lesões e acredita não ter a melhor genética para ser um atleta, porém os anos de experiência ajudaram a conhecer melhor seu próprio corpo e a se cuidar da melhor forma possível, preparando-se para nadar por meio de fortalecimento e exercícios preventivos, cuidando da alimentação e da recuperação após os treinamentos. “É normal sentir alguma dor ou ter ainda alguma lesão, porém hoje isso ocorre com menos frequência, e acredito que sou um nadador master de alto rendimento, uma vez que treino 5 a 6 vezes por semana na piscina e 2 a 3 vezes por semana musculação, buscando qualidade de vida mas também qualidade nos meus resultados”, finaliza Trivino.
Adelmo Silva, maratonista desde os 20 anos, hoje com 60, passou por uma cirurgia de quadril e uma grande cirurgia no joelho, devido a artrose, situação que demostivaria a muitos. Adelmo conta que em 2007 teve uma lesão no quadril parecida com a lesão do ex- tenista Gustavo Küerten, o Guga. Passou por procedimento cirúrgico e até 2019 já tinha corrido mais de 30 maratonas. Perguntado sobre sua capacidade de retornar aos esportes mesmo após lesões que levariam muitos a desistir, ele responde: “Eu atribuo meu retorno à força de vontade de querer continuar, obedecer recomendações médicas e principalmente um ótimo trabalho de fisioterapia e fortalecimento. Ao longo da vida descobri que disciplina é fundamental”.
O que podemos então tirar de lição desses heróis do esporte?
Às vezes, menos é mais. Respeitar os sinais do nosso corpo, valorizar o descanso e a recuperação, podem ser pontos-chave para conseguirmos nos manter ativos no esporte por anos, livre de lesões.
Tratar as lesões adequadamente. A disciplina no pós-operatório e a capacidade de se adaptar após uma lesão é fundamental para a longevidade no exercício e no esporte.
Fortalecimento. Com todo o conhecimento sobre exercício e esporte que temos à nossa disposição hoje, praticar um esporte sem realizar fortalecimento e exercícios preventivos para lesões é antiquado, arriscado e pouco eficaz para quem procura se manter ativo por toda a vida.
Ressignificar o esporte. Traçar novos objetivos de acordo com as nossas condições de saúde pode nos ajudar a treinar por décadas. Adaptar nossas vontades e expectativas a nossa prática de exercícios e esporte nos ajuda a nunca precisar parar e quando precisar, saber que será por um período pré-definido. Mantendo-nos conscientes dos nossos objetivos a longo prazo, lesões, alterações de rotina e até mesmo a falta de ânimo para os treinos pode ser manejável.
Nem todos nós somos ou seremos atletas de performance, mas uma realidade inegável é que o exercício e o esporte são atividades inegociáveis na vida das pessoas que pensam em sua qualidade de vida. Por isso é tão importante se conhecer e conhecer cada vez mais ferramentas para se manter neste maravilhoso mundo, desconhecido para muitos, que é o mundo do exercício e do esporte.
Por Juliana Mauad - Médica e Ortopedista do Esporte

